terça-feira, 20 de março de 2012

Linfócito T modificado pode ser a nova arma contra o câncer!


Um ano atrás, quando a quimioterapia parou de funcionar contra sua leucemia, William Ludwig se inscreveu para ser o primeiro paciente a ser tratado em um corajoso experimento na Universidade da Pensilvânia. Ludwig, então com 65 anos, agente penitenciário aposentado de Bridgeton, Nova Jersey, sentia que sua vida estava se acabando e imaginou que não tinha nada a perder.

Os médicos removeram 1 bilhão de suas células T (ou linfócitos T) – um tipo de glóbulo branco que combate vírus e tumores – e as proveram com novos genes, que iriam programar as células para atacar o câncer. Então, as células alteradas foram novamente inseridas nas veias de Ludwig.
No começo, nada aconteceu. Mas, depois de dez dias, as portas do inferno foram abertas em seu quarto de hospital. Ele começou a tremer, com calafrios. Sua temperatura aumentou. Sua pressão sanguínea baixou. Ele ficou tão doente que os médicos o moveram para a UTI e o avisaram de que poderia morrer. Sua família se reuniu no hospital, temendo o pior.
Algumas semanas mais tarde, não existia mais febre. E também não existia mais a leucemia. Não havia rastro dela em lugar algum.
Um ano depois, Ludwig ainda está em completo processo de remissão. Antes, havia dias quando ele mal conseguia levantar-se da cama; agora, ele joga golfe e trabalha no jardim.
”Ganhei a minha vida de volta’’, diz.
Os médicos de Ludwig ainda não afirmaram que ele esteja curado – é cedo demais para dizer isso – nem declararam vitória contra a leucemia com base nesse experimento, que envolveu apenas três pacientes. As pesquisas, dizem eles, ainda têm um longo caminho pela frente e o tratamento ainda está em fase experimental, não estando disponível fora dos estudos. Mas os cientistas dizem que o tratamento que ajudou Ludwig, descrito recentemente na revista New England Journal of Medicine and Science Translational Medicine, pode significar o ponto de virada na longa luta para desenvolver terapias genéticas efetivas contra o câncer. E não apenas para os pacientes de leucemia: outros cânceres também podem ser vulneráveis a essa nova abordagem – que emprega uma forma desabilitada do HIV-1, o vírus causador da Aids, para levar os genes anticâncer até as células T dos pacientes.
Dois outros pacientes estiveram sob o mesmo tratamento experimental. Um teve remissão parcial, e o outro, completa. Todos os três tinham leucemia linfoide avançada e já não tinham mais opções para quimioterapia.
O Dr. Carl June, que liderou as pesquisas e é o diretor para medicina translacional no Centro de Câncer Abramson na Universidade da Pensilvânia, diz que os resultados assombraram até mesmo a ele e seus colegas David L.Porter, Bruce Levine e Michael Kalos. Eles esperavam obter algum benefício, mas não haviam ousado sonhar com remissões completas e prolongadas. Na verdade, quando Ludwig começou a ter febres, os médicos não perceberam, a princípio, que isso era um sinal de que suas células T estavam engajadas em uma furiosa batalha contra o câncer do paciente.
Outros especialistas da área dizem que os resultados foram um avanço importantíssimo. ”É um excelente trabalho’’, disse o Dr. Walter J. Urba, do Centro de Câncer Providence e do Instituto de Pesquisas Earle A. Chiles em Portland, Oregon. Ele descreveu a recuperação dos pacientes como extraordinária, empolgante e significativa. ”Sinto-me muito positivo em relação a essa nova tecnologia. Conceitualmente, a coisa é grande, muito grande’’.
Para administrar o tratamento, os pesquisadores coletaram o máximo de células T do paciente que conseguiram, passando seu sangue por uma máquina que removia as células e retornava os outros componentes do sangue. As células T eram então expostas ao vetor, que as transformava geneticamente, e depois congeladas. Nesse meio tempo, os pacientes eram submetidos a quimioterapia para exaurir quaisquer células T remanescentes, porque essas células T nativas poderiam impedir o crescimento das alteradas. Finalmente, as células T modificadas eram inseridas de volta aos pacientes.


O tratamento eliminou todas as células B (ou linfócitos B) dos pacientes, tanto saudáveis quanto acometidas de leucemia, e irá continuar com esse processo enquanto as novas células T persistirem no corpo, o que poderia ser para sempre (e conceitualmente deveria ser, para manter a leucemia afastada). A falta de células B significa que os pacientes podem tornar-se vulneráveis a infecções e que precisarão de transfusões periódicas de uma substância chamada imunoglobulina intravenosa para protegê-los.
Mesmo que o novo tratamento baseado nas células T prove-se eficaz, a indústria farmacêutica será necessária para produzi-lo em massa. Mas June diz que as pesquisas estão sendo conduzidas apenas em universidades e não nas companhias farmacêuticas.
Segundo ele, para que a indústria farmacêutica se interesse, deverão ser fornecidas provas incontestáveis de que o tratamento seja extremamente melhor do que os já existentes.


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